A geração típica dos estudantes da UnB parece sofrer do mal estar da pós-modernidade [1]. Como parece sofrer de qualquer aspecto atualmente adjetivado como “pós-modernidade”, na medida em que é essa própria geração que define pós-modernidade. Para além de ser uma condição que decorre da própria definição, é muito claro que os próprios hábitos da geração atual vão no sentido de pretensamente se abrir mão de um pouco mais de segurança em favor de um pouco mais de liberdade. Pelo menos parece ser assim que, na média, os atuais jovens se sentem ou pensam que se sentem.

Os termos vagos como “parece”, “pensam” e “pretensamente”, deliberadamente utilizados no parágrafo anterior, têm sua razão de ser. Com efeito, a atual geração tende a interpretar uma liberdade de busca de conhecimento, de consumo e de entretenimento, por exemplo, como se não houvesse nenhum tradeoff em termos da própria liberdade, ainda que em outra arena. A existência desse tradeoff, contudo, é um fato objetivamente verificável e, aliás, nem sequer negado por aqueles que o operam uma vez que nele consiste um mercado bem estabelecido. Não se considera, por exemplo, que ao se usufruir das liberdades supracitadas geralmente se está expondo os gostos, o perfil e a própria vida da pessoa por meio de seus dados, que são comercializados e monetizados. Ter consciência disso é importante para se estabelecer um cálculo correto no sopesamento entre os valores liberdade e segurança, cuja relação caracteriza o mal estar da liberdade para Bauman [2]. Na atual dinâmica da sociedade, portanto, não se está a trocar simplesmente ordem por liberdade, mas também mais liberdade em um campo por menos liberdade em outro.

Com efeito, o mal estar da pós modernidade é condicionado pela tensão que se estabelece pela limitação da variação marginal relativa entre liberdade e segurança. É essa a dicotomia que parece fazer sentido. Situações como as discutidas no parágrafo anterior em que um tipo de ganho de liberdade implica a perda de outro devem ser computadas de forma líquida para que se faça sentido a ponderação entre a efetiva liberdade gozada e a segurança perdida, ou vice-versa.

Ao longo da história, a prevalência entre os valores segurança e liberdade parece estabelecer uma dinâmica oscilatória, ora pendendo para o primeiro, ora para o segundo. Atingir um equilíbrio ótimo entre as duas é uma missão difícil, se é que possível. Por essa razão, a sucessão dos diferentes momentos históricos tipicamente enseja reações no sentido oposto ao do anterior. De fato, em certa medida são valores opostos pela própria natureza humana. Uma sociedade que repute ordem como o valor mais importante em determinado momento, acaba abrindo mais mão de liberdade e vice-versa. Na pós modernidade, o mal estar consiste na busca de uma liberdade que acaba por admitir pouca segurança. É neste ponto do pêndulo que se encontram os jovens de hoje.

Estamos em um momento histórico em que a atual geração de jovens tende a buscar liberdade em detrimento de segurança. Isso pode ser percebido pela dinâmica comportamental em termos das relações sociais, do mundo do trabalho, do entretenimento e do consumo. Essa, contudo, parece ser uma condição contingente tanto no tempo, como todas são, mas principalmente na própria compreensão acerca do real significado e na extensão dessa liberdade buscada.


REFERÊNCIAS

[1] COSTA, Alexandre (2020a). Os dilemas da contemporaneidade.

[2] COSTA, Alexandre (2020b). Bauman e o mal-estar da pós-modernidade