Grupo EADers

Discentes: Guilherme Aranha; Izabela Lemes; Lucas Orsi, Sofia Vergara; Tiago Reis; Walter Cunha.

De início, tentar delimitar o período atual não configura tarefa fácil. Surgem dúvidas acerca do momento vivenciado: “se superada a modernidade, a pós-modernidade já estaria em vigência” ou “se o momento atual ainda é uma transição do antigo para o novo” são questões de difícil resposta.

Essa ambiguidade parece existir pela dificuldade de definição dos traços temporais, vez que a simultaneidade entre moderno e pós-moderno é totalmente alheia aos indivíduos, que não possuem qualquer nível mínimo de ingerência no tempo e nas inovações desenvolvidas diariamente. Inclusive, há um esforço constante, por vezes vazio, de reforçar a indispensabilidade do trabalho humano em detrimento da realidade gradativamente mais mecanizada.

Novas concepções entram em vigência com tamanha rapidez que sequer proporcionam um momento para assimilá-las, embora algumas características elementares de tempos passados ainda estejam presentes.

Apesar desse limbo temporal não ter contornos definidos, alguns valores seculares, como a religião, continuam presentes. Ainda que não da mesma forma de antes, em que a religião “assumia a sua forma universal mediante uma miríade de especificidades e particularidades, como vitrais, sermões, parábolas, peças de moral, relíquias” (ANDERSON, 2008), agora constitui primariamente uma ferramenta aos indivíduos em posição de poder, porquanto a fé é ardilosamente utilizada, neste contexto denominado pós-moderno marcado pelo avanço tecnológico e maior propagação de ideias, para influenciar os fiéis à busca de um retorno ao passado, de “quando se era feliz”.

Os efeitos da mudança dos períodos são perceptíveis a todos, assim como um mal-estar incessante causado pelo desenfreado ritmo de modernização e mutação de concepções. No entanto, as gerações mais antigas sentem um maior saudosismo de tempos passados em relação às mais novas, visto que não foram criados com a tecnologia vigente e encontram maior dificuldade para se atualizarem.

O contexto de mal-estar contemporâneo em que os estudantes estão inseridos se perpetua por meio da supressão de sua liberdade em nome do capital, do socialmente aceito e da carreira relativamente segura. Escolhas e suas consequências são sempre precedidas de incerteza e ansiedade que, infelizmente, constituem e autoalimentam esses mal-estares.

Até mesmo antes da vida universitária, os estudantes, quando do vestibular, optam por cursos com carreiras mais “estáveis” e valorizadas no mercado de trabalho do que a realmente desejada, em nome de uma posição tradicionalmente aceita que, por vezes, não expressa seus reais desejos, sua individualidade e, em nenhuma medida, sua liberdade.

Essa situação pré-universitária já demonstra que os vestibulandos, ao escolherem o curso de graduação, reprimem sua liberdade em nome de algo mais “seguro” ou até mesmo pelo status da escolha tomada consistir em uma opção mais tradicional e prestigiada no contexto social. Quando superada a questão, apresentam-se grandes dilemas internos consequentes da escolha prévia tomada que, à época, foi realizada em busca de um simulado ideal de “estabilidade”.

No entendimento de Freud em “O mal-estar do homem na civilização”, não há uma felicidade plena, pois existem limitações sociais impostas a serem respeitadas. Essa repressão dos instintos é exemplificada pela situação acima: quando apresentada uma escolha, em que em um pólo figura a liberdade, as vontades e os desejos, e em outro está a segurança e respeito às concepções dos demais, a propensão é optar por essa segunda possibilidade.

Na contemporaneidade, um curso de graduação é decisivo para os rumos da vida. Sua escolha normalmente é guiada pela aceitação histórica da carreira aos olhos da sociedade, pelo provável conforto econômico e, em um primeiro momento, uma enganosa sensação de que a felicidade será abundante e constante.

Ao iniciar a vida universitária, os estudantes por vezes se sentem pressionados, insatisfeitos e arrependidos de terem suprimido grande parte de sua liberdade para se adequar na pequenina esfera do que  restou de sua liberdade, que concorre com todas as pressões sociais existentes.

Essa insatisfação aumenta ao perceber que, mesmo quando concluído o curso, com a efetiva “intervenção no mundo” por meio do mercado de trabalho, a falaciosa impressão de satisfação consubstanciada no famoso “quando me formar”, às vezes sequer compensa a escolha que fizeram no passado, pois, embora tenham abdicado de sua liberdade em detrimento de uma posição segura, nem mesmo com o diploma em mãos há um aporte de felicidade pelos ideais que possuíam.

Outro fator que corrobora para essa apressada e limitada escolha por profissões, é a rapidez de mudança das carreiras, ocupações e habilidades da sociedade. Não é coincidência que profissões tradicionalmente estáveis são as mais concorridas no vestibular, tais como medicina, direito, engenharia, economia.

A modernidade líquida de Zygmunt Bauman (2001) resume esse contexto. Marcada pela pela priorização absoluta do capital, que engendra alguns mal-estares contemporâneos, como uma incessante incerteza, profunda ansiedade, e constante desconfiança das escolhas tomadas, exige que todos estejam cientes da volatilidade da contemporaneidade e que inevitavelmente se submeterão a esse sistema.

Os universitários estão cientes e, muitas vezes descontentes, com essa realidade. Principalmente porque essa veloz perda de individualidade em razão da automatização do mundo é assustadoramente perceptível.

Consoante Harari (2018), apesar de os humanos possuírem dois tipos de habilidades, física e cognitiva, a inteligência artificial compete diariamente para conseguir dominar essas duas aptidões. O processo de superação das capacidades humanas e sua substituição por máquinas começa a ultrapassar as habilidades antes determináveis, passando agora a compreender inclusive as emoções humanas.

Em verdade, “não sabemos de nenhum terceiro campo de atividade — além do físico e do cognitivo — no qual os humanos manterão sempre uma margem segura” (HARARI, 2018, p. 29). Dessa forma, apesar de os estudantes terem a possibilidade de fazer escolhas, nunca são livres para exercer sua liberdade de acordo com seus desejos, seja por pressões da sociedade, seja pela rapidez de mudança de certas profissões, que se tornam gradativamente mais efêmeras e, por isso, não proporcionam tanto conforto e segurança como as carreiras tradicionalmente mais aceitas.

Esse caráter dispensável e substituível de várias profissões com o advento de novas tecnologias é bastante similar ao entendimento de Freud, de que esse “[...] desconforto que decorre do reconhecimento de que o avanço científico da modernidade elevou nossa capacidade de intervir no mundo, não elevou o grau de satisfação prazerosa que esperam da vida, não os fez se sentirem mais felizes”.

Apesar da inevitável presença dos mal-estares contemporâneos, que se tornaram inerentes às mudanças vivenciadas, os universitários são um grupo, entre tantos outros, que são influenciados a intervirem em sua própria esfera de liberdade em nome de ideais tradicionais.

No entanto, essa interferência não deve ser consentida e estimulada como muitas vezes é. Ao contrário, deve-se ter consciência dessa infindável interferência para refletir sobre o momento contemporâneo, tendências atuais/futuras e concepções anteriores, a fim de buscar um equilíbrio entre tais períodos e suas especificidades.

Referências bibliográficas:

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. 1ª Ed. Companhia das Letras, 2008.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. 1ª Ed. Zahar, 2001.

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Companhia das Letras, 1930.

HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Companhia das Letras, 2018.