Discentes: Anderson dos Santos Almeida; Rafaela Côrtes Faria; Rafael Oliveira Kuhn; Lucas Gonçalves Simões Vieira; Elizandra Salomão Nascimento; Ligiane Moreira Benassuly.

Os estudantes da UnB não apresentam distribuição exatamente uniforme em relação à faixa etária a qual pertencem, e, em especial na Faculdade de Direito da UnB, há grande diversidade geracional entre os estudantes. Assim, apesar de todos compartilharem vivências em um período comum, é possível perceber que o fator geracional é essencial para identificar se é o mal-estar da modernidade ou se é o mal-estar da pós-modernidade que acomete a intimidade de cada um.

Em debate interno do grupo, houve divergência interna entre os membros a respeito disso, uma vez que os processos de transformações históricas não são homogêneas e os momentos de transição não são pontos fixos no tempo, dessa forma alguns se manifestaram no sentido de que a modernidade ainda não terminou. Nesse contexto,  houve dissenso a respeito de qual a natureza do mal-estar que acomete a geração típica dos estudantes da UnB - uma vez que entendemos que há heterogeneidade em relação à geração dos estudantes da UnB e que a transição da modernidade para a pós-modernidade é um processo que ainda não foi concluído.

Alguns, relataram que podem sentir tanto o mal-estar da modernidade quanto o mal-estar da pós-modernidade, a depender do contexto em que o debate se encontra. As verdades dogmáticas como as religiões, por muito tempo, foram a única fonte de conhecimento existente. Assim, quando os resultados da agricultura não eram satisfatórios ou quando uma doença nova surgia, a solução que esses grupos buscavam era rezar para que as divindades resolvessem a questão. Na atual conjuntura da sociedade, entretanto, apesar de as religiões e as ideologias políticas ainda serem um mecanismo muito eficiente para solucionar disputas identitárias, é difundida a consciência de que cabe à nós, mulheres e homens, encontrar a solução ideal para o problema - e tendemos a buscá-la por meios científicos (HARARI, 2018).

No atual contexto de pandemia e isolamento social, escrever sobre mal-estar da modernidade e mal-estar da contemporaneidade se apresenta como um desafio maior ainda do que já seria em outros períodos, em razão das diversas questões que perpassam a realidade que os membros do grupo tem vivido e que são pertinentes ao tema. A reflexão que o grupo desenvolveu ao responder a pergunta proposta foi desafiadora ao passo que estava diretamente influenciada pelo momento em que estamos vivendo.

O mal-estar da modernidade foi citado pelos que se identificam como pessoas adeptas à determinados dogmas. De acordo com os relatos, o principal fator que contribui para o surgimento desse mal-estar é quando há o confronto entre a ética relacionada aos seus valores políticos e religiosos é refutada por evidências científicas. Esse mal-estar da modernidade se manifesta principalmente nos momentos em que movimentos de ideologias contrárias aos seus dogmas apresentam propostas de políticas públicas que vão de encontro com os interesses aos quais o grupo identitário que partilha dos mesmos dogmas é afeto.

Há significativa mudança entre o mal-estar da modernidade e o mal-estar da pós modernidade. A liberdade e a segurança adquirem papéis inversos e "Os mal-estares da modernidade provinham de uma espécie de segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade individual. Os mal-estares da pós-modernidade provêm de uma espécie de liberdade de procura do prazer que tolera uma segurança individual pequena demais" (COSTA, 2020).

No âmbito deste grupo, também lastreado pelo atual momento, o mal-estar predominante foi o mal-estar da pós-modernidade. A extensa maioria dos membros deste grupo acredita que após adquirir o referencial teórico a respeito do atual paradigma do conhecimento científico, é muito mais difícil se apegar às certezas que uma ideologia - religiosa ou não - oferece. A falta de um credo e a supressão do conforto que à adesão às ideologias proporcionam causa um sentimento de desencantamento do mundo, trazem à tona a consciência de que, em que pese o aumento do conhecimento científico tenha elevado a capacidade humana de intervir no mundo, não foi suficiente para “não elevou o grau de satisfação prazerosa que esperam da vida, não os fez se sentirem mais felizes”(COSTA, 2020).

COSTA, Alexandre A. Bauman e o mal-estar da pós-modernidade. Arcos, 2020. Disponível em: </bauman-e-o-mal-estar-da-pos-modernidade/>. Acesso em: 8 set. 2020.

COSTA, Alexandre A. Os dilemas da contemporaneidade. Arcos, 2020. Disponível em: https://novo.arcos.org.br/os-dilemas-da-contemporaneidade-2/. Acesso em: 6 set. 2020.

HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Companhia das Letras, 2018.