A humanidade tem traçado diversos caminhos em torno de uma mesma explicação: a evolução e continuação da espécie. Poderíamos pensar que isso não seria razoável devido a algumas características da atual sociedade. Como a Religião, o Estado, o Povo, a Crença, a Economia, o Trabalho, a Família, o Individuo. Porém, a obra O Grande Inquisidor possibilita uma observação sobre como seriam essas atuais reflexões sobre humanidade. É parte de um romance de uma obra importante, uma das mais conhecidas passagens da literatura moderna, devido as suas ideias acerca da natureza humana, da liberdade e do poder político-religioso. E retrata a angústia do ser humano face o livre-arbítrio e o sofrimento.

No conto, o personagem Ivan, ateu e liberal, narra a história do Grande Inquisidor a seu irmão Aliocha, monge e muito religioso. Além desses personagens, temos a figura de Cristo, que aparece como símbolo da liberdade e o Inquisidor, cardeal do Santo Ofício que simboliza a consciência dominadora e a autoridade.

A obra instiga: “É esta a nossa obra, na verdade; é a liberdade que Tu sonhavas?”. Afirmando que ao povo foi dado a "liberdade" que era tanto esperada, que era tanto sonhada, há tantos séculos, que o próprio povo foi lá e tomou, a conquistou.

No entanto, o que seria a liberdade? De acordo com um contexto atual e tentando não se determinar bem quem a define, liberdade significa o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com a sua própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa, é a sensação de estar livre e não depender de ninguém. Liberdade é também um conjunto de ideias liberais e dos direitos de cada cidadão.

No meio jurídico, existe a liberdade condicional, que ocorre quando um indivíduo que foi condenado por algo que cometeu, recebe o direito de cumprir toda, ou parte de sua pena em liberdade, ou seja, com o direito de fazer o que tiver interesse, mas de acordo com as normas da justiça. Existe também a liberdade provisória, que é atribuída a um indivíduo com cunho temporário. Dessa forma, a liberdade poderia ser condicionada e temporária?

A liberdade de expressão é a garantia e a capacidade dada a um indivíduo, que lhe permite expressar as suas opiniões e crenças sem ser censurado. Apesar disso, estão previstos alguns casos em que se verifica a restrição legítima da liberdade de expressão, quando a opinião ou crença tem o objetivo discriminar uma pessoa ou grupo específico através de declarações injuriosas e difamatórias.

Com origem no termo em latim libertas, a palavra liberdade também pode ser usada em sentido figurado, podendo ser sinônimo de ousadia, franqueza ou familiaridade.

A liberdade pode consistir na personificação de ideologias liberais. Faz parte do lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", criado em 1793 para expressar valores defendidos pela Revolução Francesa, uma revolta que teve um impacto enorme nas sociedades contemporâneas e nos sistemas políticos da atualidade.

De acordo com a ética, a liberdade está relacionada com responsabilidade, uma vez que um indivíduo tem todo o direito de ter liberdade, desde que essa atitude não desrespeite ninguém, não passe por cima de princípios éticos e legais.

Além disso, a liberdade é classificada pela filosofia, como a independência do ser humano, o poder de ter autonomia e espontaneidade. A liberdade é um conceito utópico, uma vez que é questionável se realmente os indivíduos tem a liberdade que dizem ter, se com as mídias ela realmente existe, ou não. Diversos pensadores e filósofos dissertaram sobre a liberdade, como Sartre, Descartes, Kant, Marx e outros. Sendo a liberdade o conjunto de direitos de cada indivíduo, seja ele considerado isoladamente ou em grupo, perante o governo do país em que reside. É o poder que qualquer cidadão tem de exercer a sua vontade dentro dos limites da lei.

Para Descartes a liberdade é motivada pela decisão do próprio indivíduo, mas muitas vezes essa vontade depende de outros fatores, como dinheiro ou bens materiais.

Segundo Kant, liberdade está relacionado com autonomia, é o direito do indivíduo dar suas próprias regras, que devem ser seguidas racionalmente. Essa liberdade só ocorre realmente, através do conhecimento das leis morais e não apenas pela própria vontade da pessoa. Kant diz que a liberdade é o livre arbítrio e não deve ser relacionado com as leis.

Para Sartre, a liberdade é a condição de vida do ser humano, o princípio do homem é ser livre. O homem é livre por si mesmo, independente dos fatores do mundo, das coisas que ocorrem, ele é livre para fazer o que tiver vontade.

Karl Marx diz que a liberdade humana é uma prática dos indivíduos, e ela está diretamente ligada aos bens materiais. Os indivíduos manifestam sua liberdade em grupo, e criam seu próprio mundo, com seus próprios interesses.

Para o dicionário, liberdade seria o nível de independência absoluto e legal de um indivíduo, de uma cultura, povo ou nação, sendo nomeado como modelo, um padrão ideal.

Sabemos então o que é liberdade? Vivemos a liberdade? Vivemos em liberdade? Ou será que definimos a liberdade para caber dentro do nosso contexto racional? Pois estamos sob o controle de nossas ações. Estamos? Podemos ser precipitados em acreditar que liberdade seria algo natural, seres nascem com liberdade e aos poucos cedem para a manutenção de uma organização social? Seres individuais seriam mais livres que os organizados em grupos?

Diversos são os questionamentos que poderíamos fazer acerca da liberdade: A  liberdade variaria de acordo com o bom e mau? o belo e o feio? o errado e o certo? Teríamos bordas na liberdade? Esses limites seriam definidos pela sociedade ou pelo Estado? Não poderíamos afirmar categoricamente que sabemos a sua real necessidade e funcionalidade. Podemos perceber os nossos desejos e entendimentos. Os seres poderiam se considerar mais felizes ao passo da conquista da liberdade. Liberdade financeira, liberdade emocional, liberdade social, etc.

O texto traz reflexões como a de que humanos são seres revoltados por natureza. “Seres revoltados poderiam ser felizes?” Visualize que seja claro o conceito de liberdade e que você a tem em mãos agora, que tenha posse dela. Nós vendemos parte da nossa liberdade por outras conquistas? Imagine um contexto atual de tecnologia, internet, redes sociais, as pessoas vendem seu tempo, sua liberdade para conquistar outras coisas. A liberdade poderia ser entendida como uma moeda de troca. Não quereríamos a liberdade, mas para o que ou pelo que ela poderia ser substituída. Aos tempos do texto seria o pão, o alimento, deixaríamos de querer liberdade para não passar fome, seguiríamos um ser Divino, nos desprenderíamos de nossa liberdade apesar de ela ser entregue pelo próprio Divino para que faça o que você bem entende (a vida é sua). Porém a humanidade a paga, para a conquista de algo maior. A vida eterna, como exemplo de um sentido religioso. Poderíamos por medo ceder nossa liberdade. Assim como é utilizado pelo governo para a manutenção da ordem o recebimento da sua liberdade para que a liberdade do povo como um contexto geral seja possível. O medo pode ser usado inclusive para conter determinadas ações e reduzir sua liberdade.

Quantas vezes enquanto criança seus pais lhe disseram “se você fizer 'isso' ficará de castigo”? Seja qual for o castigo normalmente era o controle de sua liberdade. Seu único desejo era “correr na rua, brincas com os amigos”, mas, se contrariasse alguma regra, sua liberdade poderia ser tolhida. Da mesma forma se aplica ao governo. Claro que essa análise e comparação é simplista e representativa, e os contextos familiares, sociais e de governo se distinguem inclusive em suas proporções. Mas caberia a nós como indivíduos aceitar ou não as determinações definidas pelo detentor do poder? Seja no caso dos pais ou do governo, o que podemos fazer pela manutenção de nossa liberdade? "Nossa liberdade", como algo que possuímos. Queremos mesmo a liberdade? Ou precisamos ser controlados?

No contexto do texto do inquisidor a liberdade é uma conquista difícil pois as pessoas não querem a liberdade, querem o pão, querem ser controladas, determinadas a executarem algo e mantidas dessa forma. Correlacionando, essa influência que o governo faz seria proposital ou será que o partiu do povo intencionalmente a doação de sua liberdade, novamente voltando ao pensamento de usar a liberdade como “moeda”. Poderia ser tudo uma enganação, um sofrimento.

Alguém que tenha todas as condições propicias na vida, como uma liberdade financeira, podendo assim ter seu alimento sem se preocupar, sem se preocupar com as determinações do governo, sem se preocupar com os indivíduos, nascido com a liberdade que muitos querem chegar, seria esse ser mais livre? Talvez ele não esteja livre nem de seus próprios pensamentos incoerentes e desconexos. Somos seres complexos.

Como o ser humano dita que quer liberdade, a importância da liberdade, mas ao analisar na pratica muitas vezes o que o ser humano faz é arranjar um jeito de não viver essa liberdade. Porque a liberdade causa muita angústia por você acabar sendo responsável pelas decisões que você toma, então, inconscientemente o ser humano acaba buscando meios de não ser tão livre, apesar de conscientemente falar que quer isso. Então, como reflexo disso, pode-se perceber que geralmente elegemos presidentes e representantes ou lideres como uma figura mais centralizadora, mais 'forte', e o ser humano gosta de ter alguém como líder, que o guia, que possa ser seguido. Como na igreja muitas pessoas acham reconfortante uma autoridade como padre ou o papa para falar o que ela tem que fazer e o que não tem que fazer. E acaba se apegando a isso. Isso traz uma tranquilidade, pois, ela não tem que ficar tomando decisões. Assim, este seria um paradoxo sobre a liberdade. Essa poderia também poderia ser uma observação sobre a vida humana em sociedade. O ser humano acaba restringindo aquilo que teoricamente defende.

Além disso, abrir mão de parte da sua liberdade pode te proporcionar mais liberdade.  Como se fosse um investimento, que você não gasta seu dinheiro todo de uma vez para depois ter mais dinheiro. Situações de segurança, por exemplo, que a sociedade, o povo, autoriza que o Estado seja um controlador e tome decisões que acabam restringindo sua liberdade, porém, te produz segurança.

Portanto como traz o texto “o segredo da existência humana consiste, não somente em viver, mas também em encontrar um motivo de viver”. “Nada há de mais sedutor para o homem do que o livre arbítrio, mas nada há também de mais doloroso.”. “Pensaremos então na felicidade universal”. “Quem vai acreditar o que disseste da liberdade?”. “Enganando os durante todo o caminho, para lhes não revelar onde os levam e para que os pobres cegos tenham a ilusão da felicidade.”

E para não me tornar longo, repetitivo e ainda mais prolixo, recorro a liberdade de parar por aqui. (ou seria ceder inconscientemente a liberdade?)

Assim, a figura do inquisidor representaria um contexto 'racional' do ser humano. Tentando determinar suas ações e a partir disso as reflexões de suas reações, seja no meio social, político, religioso, cultural, educacional, racional, emocional ou qualquer outro. A liberdade faz parte do que é controlado assim como o controle paradoxalmente conduz a sua liberdade.

COSTA, Alexandre Araujo. Aulas filosofia do direito - UnB. 2020.

DOSTOIÉVSKI, Fiodor. O grande inquisidor. Edição especial para distribuição gratuita pela Internet, através da Virtualbooks.

Luana Martins Golin O discurso teológico no conto O Grande Inquisidor de Dostoiévski* Revista Caminhando v. 14, n. 1, p. 65-75, jan. jun. 2009.