Desde o início da pandemia no Brasil, em 2020, o estado do Amazonas esteve em grande evidência devido a crise sanitária. Quase um ano depois, em janeiro de 2021, o estado começa a entrar em colapso devido a segunda onda causado pelo novo coronavírus. Dentre os vários motivos estão o fato de que a grande maioria das pequenas cidades do estado não têm o mínimo de estrutura hospitalar, fazendo com que os pacientes precisem ser transferidos para a capital.

Com o grande número de casos passaram a faltar não só os leitos hospitalares, mas também os intrumentos utilizados nas internações, como, por exemplo, o oxigênio hospitalar, o que acentuou a crise fazendo com que o estado do Amazonas se tornasse um dos mais afetados no país e no mundo.

Com o ápice da crise, e levando em consideração que o resultado dessa atribulação se trata de milhares de vidas humanas perdidas, dois tipos de condutas ficam bastante em evidência: a busca por tentar ajudar e a busca de tirar proveito da situação.

Em uma rápida pesquisa na internet é possível verificar a existência de inúmeros grupos se organizando em prol de prestar apoio humanitário ao Amazonas: ONGs, empresas, particulares, anônimos e famosos se movimentam, seja para pedir doação de capital, equipamentos, ou para colocar a mão na massa e construir hospitais de campanha no interior do estado.

Por outro lado, da mesma forma, é possível encontrar diversas notícias acerca de desvios milionários de dinheiro do poder público federal, que havia sido repassado para ajudar na crise do sistema de saúde. As operações deflagradas pela Polícia Federal levaram à prisões que nos fizeram perceber que por trás dos desvios estavam pessoas que tinham deveres políticos – e morais – de se empenhar em sanar a crise vivida.

A partir desse contexto, podemos parar para refletir sobre as virtudes humanas, e relacioná-las aos pensamentos Platônicos e Aristotélicos.

Platão, a partir do seu idealismo, trata a virtude como sendo algo inato ao homem e, dessa forma, seria algo que não pode ser modificado com o hábito. A ideia platônica é a de que o homem seria bom e virtuoso à medida em que pode contemplar a ideia do bem, de modo que a virtude poderia ser vista apenas como um conhecimento idealista.

Tendo em vista que nesse pensamento a razão seria a determinante no estabelecimento do agir do indivíduo, penso que essa não seja a visão de virtude mais adequada para aplicarmos no contexto tratado. Utilizando o exemplo do grupo de pessoas que se aproveitou financeiramente da crise de saúde no Amazonas, podemos afirmar que, no ponto de vista de Platão, essas pessoas, com almas inclinadas à política e à cuidar de outras pessoas, iriam se guiar pelo valor ético da justiça com o intuito de realizar a virtude que lhe é inerente. Não foi o que aconteceu.

Aristóteles, por sua vez, e com bases de pensamento mais empíricas, acredita que as virtudes são adquiridas pelo hábito, de modo que, com a prática, o homem pode ser bom e virtuoso. Dessa forma, o homem seria o produto de suas próprias ações, de maneira que, ao contrário das ideias platônicas, ninguém se torna virtuoso por conhecer o bem, pois a excelência moral não é saber distinguir o certo do errado, mas uma disposição da alma no sentido de realizar o bem [1]. É o pensamento de minha preferência.

Destarte, podemos agora pensar no grupo de pessoas que se voluntariou para ajudar na pandemia. Rotular essas pessoas, de acordo com o pensamento aristotélico, em uma coletividade de pessoas virtuosas, que estão praticando a caridade, nos leva a outro pensamento de Aristóteles: a educação moral de uma pessoa não significa o desenvolvimento de um saber, mas o desenvolvimento de uma disposição da alma para o agir excelente [2].

Nesta continuidade podemos pensar em subdividir o grupo das pessoas virtuosas em pessoas que, de fato, têm ações virtuosas, e pessoas que agem apenas com o intuito de parecerem virtuosas para outras pessoas, enquanto, na verdade, agem conforme seus interesses pessoais. Em tempos de lockdown com crise econômica, e redes sociais afloradas com busca de likes, quem está em que grupo?

Referências bibliográficas:

  1. COSTA, Alexandre. A ética grega. Arcos, 2020. Disponível em:https://novo.arcos.org.br/a-etica-grega/ . Acesso em: 8 mar. 2021.

  2. ____________. A ética grega. Arcos, 2020. Disponível em:https://novo.arcos.org.br/a-etica-grega/ . Acesso em: 8 mar. 2021.

COSTA, Alexandre. A filosofia grega. Arcos, 2020. Disponível em:https://novo.arcos.org.br/a-filosofia-grega/#1-a-forma-o-da-filosofia-a-partir-da-mitologia . Acesso em: 4 mar. 2021.