Como vimos no início do semestre, o gosto pela filosofia não é compartilhado por muitos e a matéria encontra certa restrição no meio acadêmico e social. Apesar disso, é quase certeza que pessoas desses dois ambientes já ouviram, no mínimo, falar sobre Platão.

Platão foi um filósofo e matemático da Grécia Antiga, suas contribuições são incontáveis e inclusive, muitas delas, ainda parecem ser atuais (basta olharmos os posts do módulo 5, que os colegas fizeram relacionando o pensamento platônico com questões contemporâneas). O filósofo, nascido por volta dos anos 400 a.C., teve como seu "professor": Sócrates; e como seu discípulo: Aristóteles, além de diversos outros influenciados pelo seu pensamento.

Como dito, o pensamento platônico é uma fonte inesgotável de estudo, e, sem dúvida, uma das suas grandes contribuições é o conceito de metafísica. A capacidade de abstração de Platão o permitiu a atingir conclusões antes impensadas. As ideias que temos de conceitos abstratos - como: beleza; justiça; unidade, etc -, não estão presentes no mundo físico, estão além dele, portanto: metafísico. Esses conceitos dificilmente são explicados, mas "nossa razão nos diz que deve existir" (COSTA, 2020).

Os conceitos metafísicos são imutáveis, uma espécie de "verdade" que podemos alcançar por meio da razão. É precisamente nesse sentido que nos deparamos com o "mito da caverna". Em brevíssimas palavras, o mito da caverna nos diz que existem prisioneiros dentro de uma caverna de modo que, acorrentados, só conseguem ver o fundo desta caverna. Assim, tudo o que passa do lado de fora é projetado por meio de sombras em seu fundo, fazendo com que os prisioneiros só tenham acesso a essa formação de imagem - acreditando, portanto, que essas são as únicas existentes. Acontece que - por meio da razão - um dos prisioneiros consegue se libertar das correntes e, ao se voltar para a saída da caverna, percebe a real imagem das coisas. Entretanto, ao retornar e contar para os outros prisioneiros, não é bem recebido e é desacreditado.

Com essa alegoria, Platão pretende demonstrar a separação entre o mundo físico (interior da caverna) e o metafísico (exterior). Essa ruptura platônica entre o mundo físico e o metafísico possui consequências perceptíveis até os dias de hoje. Por exemplo, a grande discussão entre direito natural e direito positivo. Sem esgotar a discussão, Platão acredita que as ideias presentes no mundo metafísico são imutáveis, tendo os filósofos o dever de "alcançá-las". "Nesse sentido, todo jusnaturalismo é platônico, pois apela para a existência de um direito natural imutável, perceptível pelo logos, que define as normas justas por natureza." (COSTA, 2020).

É interessante notar que mesmo após a sociedade ter rechaçado o jusnaturalismo, ainda encontramos bastante dificuldade em nos desvencilhar desse pensamento. Os ordenamentos ainda assumem determinados direitos naturais, pactos internacionais possuem como base a assunção do direito à vida como natural; em uma discussão mais recente, movimentos sociais lutam e afirmam a igualdade - de gênero, raça, entre outras - como algo natural.

Assim, o pensamento platônico ainda está presente, quer queira, quer não, nos ideais da sociedade, nos ordenamentos e inclusive no modo de agir de muitas pessoas. Estudar o filósofo é ter maior compreensão da origem de diversas visões de mundo - tarefa fundamental para todo jurista. Indo além, é precisamente aí onde se encontra a importância da filosofia ainda nos dias de hoje.

"[...] sempre me pareceu útil para a sociedade que os juristas compreendessem a relatividade de suas crenças e de seus juízos de valor." (COSTA, 2020)

REFERÊNCIAS

Costa, Alexandre. A filosofia grega. Arcos, 2020.

Costa, Alexandre. Os desafios da filosofia contemporânea. Arcos, 2020.