Quanto à questão do mal-estar da modernidade ou da pós-modernidade, cremos que essa questão enseja divergências no grupo. Por um lado, temos aqueles que acreditam que a modernidade ainda não acabou e há aqueles que entendem que estaríamos em um mal-estar mais contemporâneo.

Para quem não acredita ter a modernidade acabado, o mal-estar contemporâneo seria a realização do mal-estar moderno.

O conceito do mal-estar civilizatório, por exemplo nas obras de Freud, se dá pela imposição social de limites ao id em sua inteireza, permitindo que a vida social fosse possível via formação do superego intermediado pelo ego. Entende-se que a religião exerceu seu papel de cooperar na criação dos mecanismos de controle social, mas que sua função já havia sido superada, portanto, perdendo papel social e humano. Aliás, a manutenção dela incorreria na infantilização pela projeção de um país protetor. Seu diagnóstico, em que pese se basear na influencia de Nietzsche, não acena para a proposta do autor da Basiléia que vê na religião uma forma de aniquilação da vontade de poder em face da busca e valorização da vontade de verdade. Se Freud mata a religião como ilusão, Nietzsche afirma que a modernidade matou Deus por ter “bebido o mar ou apagado o Sol”.

Mesmo o diagnostico weberiano, apesar de partir mais da racionalização, aproxima-se da ideia de que a religião fora superada por novas realidades. Assim, o projeto moderno estaria na racionalização e naturalização da humanidade, advindo de propostas de autores como Hume e Kant.  Inclusive, Kant acredita que o ideal iluminista não havia sido levado a sério quando do texto Was is Aufklärung?, portanto, motivando uma investigação quem levasse a termo esse projeto iluminista.

Dessa forma, não haveria distinção entre esses dois mal-estares, pois a modernidade não estaria realizada, exigindo ainda a busca por se exaurir plenamente. Cremos que o desconforto estaria em não poder realizar a idéia de naturalização da humanidade.

Aliás, o projeto antropocêntrico implicaria em coisas que a modernidade não foi capaz de realizar, mas haveria lançado via projeto metafísico, como diagnostica bem Plantinga, em Where the Conflict Really Lies, tratando de uma metafísica não supernaturalista.

Se a ciência seria a pedra de torque dessa metafísica natural, o problema estaria ela mesmo incorrendo nessa abordagem, aliás, não apenas presente no uso das ciências naturais, mas na busca por explicações. Seja em Marx, ou em Durkheim, passando pela antropologia, o projeto de naturalização metafísica se daria com a redução das categorias explicativos ao universo ou do científico -seja em ciências naturais e em ciências sociais - ou do racional.

A busca de sentido como sinônimo de projeto metafísico causadora de mal-estar não encontraria respaldo como problemas central, mas a investigação por categorias sim, essas estariam propondo novo alegando se livrar do velho. Aliás, a modernidade é metafísica - como Gilson mostra dentro de sua tese de doutorado sobre o agostianismo de Descartes, passando pela boa metafísica de Hume, bem como o Summum Bonum de Kant -, contudo, o que os que se alegariam pós-modernos tentaram fazer, eliminar a modernidade, se âncora apenas em levar a termo o que a modernidade pretendeu, mas não realizou em plenitude.

Se há um mal-estar, há apenas um: de não realização por todos os lados de projetos inacabados: seja da destruição da religião, cujas bases são solapar a metafísica, por via investigação racional ou estética - para quem seguiu a senda nietzchniana. Contudo vale a ressalva do Estagirita: uma critica a metafísica é ela mesma metafísica. Se o mal-estar seria a delimitação desta ou a pseudo-não aceitação pela academia, a verdade que se construiu um momento metafísico às avessas, como diria Heidegger de Nietzsche, um platonismo de chão.

Cremos que o mal estar presente está mais próximo de uma visão, seja de quem achou que a metafísica iria acabar, mas não ocorreu - aliás, como propõe Rodney Stark, as teorias de secularização se mostraram inefectivas do ponto de vista explicativo, dado avanço da religiosidade, como uma resposta já proposta pelo ser religioso do humano de Zubiri -, ou de quem acha que a metafísica acabou com a falsa impressão de morte das religiões. O estudante da UnB hoje se ocupa com a crise do sentido típica de um mal-estar contemporâneo, já que a universidade assume, em geral, que a modernidade fora superada.

Contudo, fica em aberto essas teses diagnosticas de mal-estar por terem proposto, desde de remédios sociais ou políticos, passando por propostas cientificas - cientificismo genético e neurocientífico - e criticas de purgação do mundo afastando a metafísica - como em Onfray, no seu Tratado de Ateologia -, dando a entender que a metafísica seria a ancora que não deixaria a nave do mundo avançar. Contudo, na seria este também um projeto metafísico?