A filosofia, em si, não obedece a uma linha cumulativa de tempo. Pelo contrário, o tempo da filosofia é marcado por uma série de descontinuidades, com rupturas envolvendo temas fundamentais e atuais abordados na filosofia grega antiga. Percebe-se uma forte influência dos gregos em várias áreas do mundo contemporâneo, a arquitetura, biologia, ética, política, metafísica, na área dos esportes, o desenvolvimento da ciência e, inclusive, na filosofia contemporânea. Essa ideia de ordem natural que é muito presente nos dias hodiernos é uma das principais heranças da filosofia grega antiga.

  Na sociedade, a tudo é atribuído um juízo de valor, por exemplo, o que é “bom” ou “ruim” e o que entendemos por “justiça” e “verdade”. As reflexões contemporâneas sobre as atitudes que advêm da razão e da emoção também podem ser vistas nos embates de Aristóteles e Platão sobre o que motiva uma ação.

  O conceito trazido por tragédias gregas como Antígona trazem à tona a dicotomia entre o “direito natural” e o “direito positivo”. Nesse sentido, coloca-se em xeque o direito religioso versus o direito positivo. Ainda hoje, muitos dos debates giram em torno desse questionamento - o que vale mais, afinal, a religião ou a razão? Como pode o ser humano se colocar como o centro de tudo, assumindo a posição de uma verdadeira representação religiosa em plena contemporaneidade? Tanto isso é verdade que a relação do humano com a natureza, na concepção ocidental, ainda é no sentido de que o ser de direitos é apenas o ser humano. No entanto, é importante ressaltar a diversidade dos discursos da antiguidade e dos atuais.

A ética antropocêntrica pode ser caracterizada como a que surgiu a base do pensamento que se desenvolveu no Ocidente a partir do pensamento clássico, que, apesar de presumir uma ética implícita na natureza, nunca teve esse objeto como centro da análise. Desse modo, o homem, tido como a única espécie moral autoconsciente, passa a agir somente em seu auto interesse. A frase do sofista grego Protágoras ([s.d.] apud ROLSTON, 2007, p. 559) “O homem é a medida de todas as coisas” resume essa ideia, que influenciou fortemente o período do Iluminismo e a revolução científica, no qual a natureza foi reduzida a um conjunto de forças causais mecânicas destituída de valores. Além disso, a própria teologia judaico-cristã também ajudou no desenvolvimento da ética antropocêntrica: no mito da criação, Deus criou todo o mundo físico e o sujeitou ao homem (ROLSTON, 2007).

  Um dos principais pontos a serem notados na modernidade são a internalização da cultura, dos mitos, crenças, valores e expressões na modernidade. Como bem mencionado pelo professor Alexandre:

“Um cristão, por exemplo, não percebe sua religião como uma das expressões da experiência religiosa humana, mas como um conjunto de descrições verdadeiras e de normas válidas.”

  Isso é um dos pontos principais da existência do ser humano na contemporaneidade, conforme observado de maneira ainda mais florescente com os últimos acontecimentos políticos no Brasil e no mundo.

  Ainda, a filosofia platônica nos aponta a necessidade do ser humano de sempre buscar a causa, sem que haja jamais a aceitação apenas do não-ser. O nosso logos sempre busca explicar os fatos segundo suas causas. Um paralelo que podemos fazer com a modernidade seria justamente o apontamento de todas as questões por trás dos acontecimentos - uma tragédia nunca é apenas uma tragédia, mas sim um fruto da junção de questões políticas, antropológicas, de ações anteriores e até mesmo de questões religiosas. Não existe, na modernidade, um acontecimento isolado.

  Por fim, fazendo-se um paralelo entre filosofia ocidental e oriental, nota-se a herança cultural, de valores e também religiosa em ambas. É o que se nota na tradição taoísta, em que, por exemplo, Lao Tse, filósofo da Antiga China, foi gestado durante 81 anos e concebido quando sua mãe engoliu uma pérola de luz. Mesmo com as inúmeras diversidades da filosofia oriental antiga (em comparação à ocidental), existe também “O Homem Sagrado que Governa”. O taoísmo é, em si, uma mistura de religião e de filosofia de vida.

Referências bibliográficas

COSTA, Alexandre. A Ética Grega. Arcos, 2020.

COSTA, Alexandre. A filosofia grega. Arcos, 2020.

COSTA, Alexandre. Natureza x Governo. Arcos, 2020.

GUIMARÃES, Maria. Atualidade da Grécia Antiga. 2020. <https://revistapesquisa.fapesp.br/atualidade-da-grécia-antiga/>

Lao Tse. Tao Te Ching. Tradução: Wu Jyn Cherng.

ROLSTON, R. Ética ambiental. In: BUNNIN, N.; TSUI-JAMES, E. P. (Org.) Compêndio de Filosofia. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2007. pp. 557-571.