Autores: Bárbara de Oliveira Aguiar, Lucas Moreira Ribeiro, Ludmila Laiara de Oliveira Queiroz, Mário Pereira Machado Filho, Samuel Lucas Machado Lopes.


Introdução

Na obra “Comunidade da Diferença” do professor Miroslav existem diversos pontos interessantes a serem abordados, entre eles, o foco desse artigo, que é a suposta ordem imposta no mundo e a ausência de pensamento crítico por parte das pessoas de um modo geral. Para chegar aos pontos mais específicos do texto é preciso entender como o professor desenvolve a ideia de mundo e individualidade, e de forma ainda mais clara, como essas ideias impactam no mundo atual, com tanta tecnologia ao alcance das pessoas.

Seriam as tecnologias um meio de evolução ou regressão? De inclusão ou exclusão? Os debates filosóficos cumpriram a função de ajudar as pessoas ou simplesmente ficaram no campo mais teórico? O professor Miroslav trouxe muita pauta interessante quando decidiu abordar as diferenças. Mostrando que, apesar das dificuldades, a filosofia precisa se mostrar aberta ao novo.


Desenvolvimento

O professor Miroslav Milovic deixou ensinamentos preciosos sobre o próprio agir da filosofia no mundo, afinal, ele entendia que, para isso, era preciso saber primeiro o que é o mundo e o que é a própria natureza. Ele parte de uma ideia de Sócrates, que diz que para agir precisamos saber o que é o logos do mundo. Partindo dessa premissa, se fizermos o que Miroslav sugere, voltamos aos pensamentos dos antigos gregos por meio de uma contemplação do essencial, do entendimento do que é prático, pois de modo mais claro e sem muitos enfeites, a realidade se torna mais compreensível para todos os que se interessem por ela. O fato é que, nos dias de hoje, tem sido mais fácil ir direto ao ponto, sem muito esforço, buscando apenas respostas rápidas. E isso tem levado a um “emburrecimento” da população.

Vivemos a geração dos avanços tecnológicos, onde nem sequer é preciso digitar frases inteiras para ser compreendido. Temos corretores automáticos nos celulares e computadores e não valorizamos mais tanto uma escrita impecável do português. Temos o Google, sempre disponível para atender e responder a qualquer demanda. Qual seria então o sentido de uma verdadeira contemplação se não temos mais necessidade disso? O professor Milovic coloca que, tanto na tradição mais antiga como nos primórdios da modernidade, o mundo é concebido como a fonte do conhecimento. Um importante questionamento feito aqui, partindo das ideias de Miroslav, é que se as pessoas do mundo não se interessam por essa fonte de conhecimento, como poderemos pensar as demandas daqui em diante?

E mesmo partindo do princípio de uma modernidade filosófica, na qual o sujeito é a base do conhecimento e não mais o mundo, o que faz total sentido, ainda não superamos a falta de interesse humano em buscar compreender essas questões partindo de uma raiz mais profunda, na qual buscamos o essencial. Estamos em um ponto da sociedade em que quase não precisamos mais pensar, tudo está ao nosso alcance, e isso não é algo ruim, mas é algo que nos impede de evoluir. Um exemplo um pouco tosco disso é o caso de Thomas Edison, inventor da lâmpada, que fez mais de 1000 tentativas até chegar a um modelo de sucesso. Isso aconteceu em 1879, época em que, além de ainda não ter a lâmpada, não tinha nem um pouco da tecnologia desenvolvida hoje. Pensar, tentar e falhar era mais que uma necessidade, era um objetivo que precisava de tempo para ser alcançado. Agora, se pensarmos nos dias de hoje, com todo esse aparato tecnológico, internet, telefone, eletricidade, o mais certo a se pensar era que seria mais simples chegar a uma evolução como a de Edison. Mas olhando pelo lado da filosofia, as pessoas têm preguiça de pensar, não precisam pensar e já vão logo em busca de resultados prontos. O professor Miroslav deixa a semente desse pensamento em uma entrevista realizada por e-mail à IHU on-line, na qual ele sustentou que:

“Nesse mundo tão ordenado, quase não temos que pensar mais. O pensamento não muda a estrutura dominante do ser. Essa inabilidade do pensamento termina, no último momento, nas catástrofes políticas do nosso século. Tantos crimes, mas quase sem culpados. O indivíduo que não pensa e se torna cúmplice dos crimes: essa é a banalidade do mal diagnosticada por Hannah Arendt como a consequência dessa tradição filosófica que quase mumificou a estrutura do ser e nos marginalizou”. (Miroslav Milovic 2014).


Levando essa discussão para campo político, como foi o objetivo do professor, temos um problema ainda mais profundo. Onde existem grande catástrofes no mundo para as quaisboa parte da população fecha os olhos. Tantas pessoas passando fome, morando nas ruas, entregues à situações críticas de saúde, com falta de segurança, de educação de qualidade e tantas outras problemáticas. Enquanto falamos de uma ausência de pensamento crítico em quesitos tecnológicos e filosóficos de um modo mais amplo não é perceptível um impacto tão grande assim de modo geral. Afinal, discutir o que seria ou não base do conhecimento, mundo, natureza ou ainda se é possível criar uma câmera ainda mais moderna não afeta diretamente a vida de milhares de pessoas que vivem em situações precárias. Esse mundo ordenado, em que tudo tem o seu devido lugar é extremamente discriminatório, não há espaço para a fome, para o feio, para o doente. O grande problema dessa falta de senso crítico está aqui, onde apenas fechamos os olhos para o não conveniente.

O professor Miroslav em sua obra “Comunidade da Diferença” busca questionar a própria modernidade sob um enfoque da racionalidade, na qual a modernidade é uma forma de identidade, nivelação e mediocrização que apaga as possibilidades da diferença.  A filosofia deve ser fonte de transformação do mundo de forma concreta na qual, no lugar do sujeito e dessa forma moderna de identidade, é preciso pensar nessas diferença, saindo apenas desse pensamento metafísico e buscando o novo. O foco aqui não é acentuar a diferença entre as pessoas, e sim criar algo novo, mais inclusivo e concreto, que faz, de fato, uma autorreflexão da diferença.

O professor Miroslav nos coloca em seu livro “Comunidade da Diferença” que:


“Hoje o sistema isola, atomiza o indivíduo. Por isso seria importante pensar as novas formas da comunicação. Mas o sistema também nega o indivíduo. O capitalismo começa desenvolvendo as formas gerais. Na economia, por exemplo, mudam-se os valores de uso concreto e qualitativo para os valores de troca geral e quantitativa. Na filosofia aparece o sujeito geral, não o indivíduo. Então, a diferença é uma forma da crítica.” (Miroslav Milovic 2004, p132).


De modo resumido, Miroslav disse que o mundo tem os fundamentos que a física ou a ciência não conhece, fazendo com que haja uma íntima ligação entre filosofia, metafísica e razão. Com isso, já é perceptível a complexidade com a qual os assuntos deveriam ser discutidos, apenas uma área de conhecimento não é ampla o suficiente para delimitar determinados assuntos. Pensando nisso, e fazendo um paralelo com com a própria situação atual do mundo, vemos o quão rasos os debates políticos, filosóficos, científicos e outros têm se tornado. O objetivo do professor Miroslav Milovic é mostrar como ainda precisamos estar envolvidos com os assuntos do mundo, levando em conta suas particularidades e sem deixar que a individualidade nos cegue quanto às necessidades dos outros. Projetos como o do professor Miroslav buscam abrir os olhos da população para uma sociedade mais inclusiva.


Conclusão

O objetivo em discutir as diferenças está em incluir e não excluir as pessoas dos debates políticos, filosóficos e científicos. Existe muito assunto ao redor do mundo que não tem a atenção que merece. As pessoas passam fome, moram nas ruas, precisam de remédios, de educação e ainda assim a maior parcela da população prefere ficar calada esperando que algo seja feito. Essa modernidade que nos entrega tudo pronto não nos instiga a pensar, temos tudo nas mãos.

Mesmo em questionamentos que carreguem consigo certo desinteresse, o objetivo nunca é ficar calado. O professor Miroslav é extremamente sensível quando diz que precisamos de uma comunidade que busque a autorreflexão da diferença. Que não aceite o senso comum apenas porque ele foi classificado assim. Se não fossem por grandes revolucionários que passaram por nossas vidas, ainda estaríamos estagnados no tempo, vivendo sob algum tipo de injustiça ainda pior. Afinal, segundo o próprio professor, viver no mundo significa saber o que é o mundo!


Bibliografia


Entrevista com o filósofo Miroslav Milovic - Entrevista" em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2021. Disponível em: http://filosofia.com.br/vi_entr.php?id=21. Acesso em 04/10/2021.


Junges ,Márcia ; Machado ,Ricardo. 2014. Contemplar para compreender, entender a si mesmo para fazer o bem Disponível em: http://www.ihuonline. unisinos.br/artigo/5391-miroslav-milovic-3. Acesso em 04/10/2021


Milovic, Miroslav, 1955. Comunidade da Diferença. Rio de Janeiro: Relume Dumará; Ijuí RS: Unijuí, 2004- (Conexões; 21)


Milovic, Miroslav; Costa Alexandre. Repensar o Social. 2021.Disponível em: https://novo.arcos.org.br/pensar-o-social-2/Acesso em 04/10/2021


Disponível em:https://www.camara.leg.br/radio/programas/386792-em-1879--thomas-edison-inventou-a-lampada-eletricaAcesso em 04/10/2021.