A herança grega transbordou o campo filosófico e encontrou, na arquitetura, na dramaturgia, na matemática e em outras áreas, espaço para se projetar por centenas de anos, chegando aos nossos dias. Não raro chamada de berço da civilização ocidental, a cultura grega é ponto de partida para muitas definições que nos são caras e mesmo paradigmas científicos em ciências humanas em geral, com destaque para a filosofia.

O mundo presente é de tal modo influenciado pela herança grega que é preciso, em alguma medida, forçarmo-nos à compreensão de que a contemporaneidade, ainda que deferente a essa herança, não é a conformação do continuum histórico que se fez derivar a partir da antiguidade clássica, como bem apontou Alexandre Costa em reflexão sobre o tema[1].

A dicotomia platônicos versus aristotélicos, presente na herança grega, dividindo os principais modelos do pensamento filosófico que nos chegou, também pode ser percebida, relidas, no pensamento filosófico contemporâneo. Metafísica e realidade são ainda influenciadores importantes a serem considerados por nós.

De parte do pensamento platônico, mais ligado ao idealismo, os conceitos de bom e belo reverberam. O campo do direito nos parece beber mais da fonte platônica. Textos comprometidos com o poder decisório, como os de Ronald Dworkin[2], que argumentam no sentido de uma única solução correta para cada caso concreto, parecem cultivar o pensamento de que a ideia é capaz de superar o inchaço que marca a prática judiciária de muitos países, como é o caso do Brasil.

Por outro lado, correndo o risco de avançarmos por uma seara de pensamentos mais estranhos à nossa prática acadêmica, temos o campo da sociologia, a nosso ver mais associado à herança pragmática aristotélica. Autores clássicos e contemporâneos da sociologia se afastam do idealismo. Karl Marx e Friedrich Engels[3]já travaram embate acadêmico nesses termos. Entre os contemporâneos, Pierre Bourdieu[4]parece ser um bom representante dos preocupados com a “vida como ela é”. Seus conceitos de campo e habitus tentam dar conta exatamente da medida em que as sociedades se fazem categorizar por meio dos atributos culturais de pertencimento que demarcam classes sociais e coletivos diversos em seu seio.

Por fim, Platão e Aristóteles, cada um à sua maneira, são nomes muito representativos da herança grega e já para sempre gravados no saber humano ocidental. Um olhar com vigilância epistemológica se faz necessário, entretanto, para que consigamos identificar os caracteres de cada estilo de pensamento e perceber seu alcance e utilidade para nossas preocupações de pesquisa acadêmica, tanto no campo do direito, da sociologia ou qualquer outro.

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[1] Costa, Alexandre. A filosofia grega. Arcos, 2020.

[2] Dworkin, Ronald. Uma questão de princípios. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

[3]Marx, Karl; Engels, Friedrich. A ideologia Alemã. Boitempo, 2007

[4]Bourdieu, Pierre. Razões práticas. Campinas: Papirus, 1996.