As questões filosóficas prementes para cada geração são diversas, pois elas costumam decorrer de uma tensão relativa aos modos como percebemos a realidade.

As narrativas tradicionais nos oferecem uma proposta de integração de todos os aspectos de nossas vidas, mas deixam pouco espaço para as nossas diversidades, em seus rígidos papéis sociais. Já as narrativas modernas tentam criar a possibilidade de uma sociedade pós-tradicional, mas nos legam mecanismos de controle que podem ser tão opressivos quanto uma sociedade de papéis sociais exaustivos e imutáveis.

No mundo contemporâneo, permanece a tensão que Freud diagnosticou na própria sociabilidade: desejamos uma liberdade sem limites e desejamos uma sociedade que nos ofereça proteção, o que sempre nos conduz a arranjos sociais em que cada um de nós precisa ter seus desejos controlados para que possa haver uma coordenação social.

Parece inevitável que a socialidade gere uma boa dose de sofrimento, mas o tipo específico de sofrimento enfrentado por cada geração é diferente, bem como as dores que são consideradas toleráveis. E várias formas de sofrimento e de desigualdade são consideradas legítimas (ou ao menos toleráveis):

  • por contribuírem para a formação de bons cidadãos (como os castigos infantis);
  • por serem legítimos (como as limitações à entrada de refugiados no país) ou ;
  • por serem necessárias (como as cirurgias de redesignação sexual de crianças intersexuais).

A filosofia costuma operar nessas zonas de tensão entre as narrativas sociais dominantes e percepções individuais ou coletivas que questionam a validade dos modelos explicativos dominantes em uma sociedade. Política, moralidade e sexualidade, por exemplo, são campos em que várias divergências costumam aflorar.

  • As pessoas podem ser obrigadas a se vacinar, mesmo estando inseguras?
  • Brasileiros que duvidam da lisura das eleições com urnas eletrônicas podem negar-se a reconhecer a validade dos resultados das próximas eleições?
  • A decretação de lockdown viola os direitos das pessoas?

Questões como essas geram divergências entre as pessoas e também entre gerações, cujas sensibilidades foram modeladas em contextos diversos. Para tentar entender as peculiaridades do modo como a sua geração pensa o mundo, propomos nesta atividade a seguinte questão:

Identifique alguns comportamentos que seus pais consideram adequados (ou toleráveis) e você considera preconceituosos (ou intoleráveis)?

Esses pontos de divergência costumam ser bons marcadores acerca dos temas em que as tensões conceituais podem aflorar e que, por isso, são campos ricos para uma reflexão filosófica. Por exemplo, Thomas Hobbes dizia (e boa parte das tradições) continua dizendo que os pais têm direitos naturais sobre os filhos.

  1. Você entende que os pais podem impor a seus filhos menores a observância dos ritos de uma religião específica?
  2. Podem os pais educarem os filhos para serem racistas?
  3. Você entende que a igualdade entre homens e mulheres é um direito natural?
  4. Que tipo de comportamento estatal tornaria legítima uma sublevação para depor o governo brasileiro?