O vídeo de Christian Dunker, sobre a atual geração, seja “millennials”, “geração Z” ou “sociedade fluida”, encontra diversas características que estão presentes em novos graduandos, não que isso seja algo do mais moderado nível de controle, mas essa conclusão se faz verdadeira pelo fato de estarmos inseridos em uma sociedade que demanda sobre estes jovens a manifestação de um individualismo não antes visto em outras gerações, relação esta que pode afetar diretamente na forma de entender o outro indivíduo, que geralmente tem suas próprias peculiaridades e seu próprio modo de ver o mundo, aliás, é uma nova relação social, um pouco longe das unificações tradicionais dos tempos passados, que presavam por um costume em comum e a predominância da religião como a forma de entendimento do mundo, gerando uma diversificação não tão acentuada como nos dias atuais.

A vivência social necessita desse acordo em comum de todos os indivíduos, prezando pelo respeito às mais variadas formas de viver, cada indivíduo tem seu próprio conjunto de regras, sua própria religião, sua motivação, seu interesse político, sua banda preferida, estilo de música, que nem sempre são pelos “gostos de massa”, aliás, em alguma dessas áreas ele pode manifestar escolhas que são bem peculiares em relação a outros jovens, ou seja, cada jovem vai ter a sua própria peculiaridade em alguma dessas características que nos moldam, não sendo mais o padrão cultural “sólido”, mas o acesso à informação, às diferentes culturas, à rapidez dos dados, a influência das redes sociais, que são alguns dos frutos dessa liquidez, juntamente com a prevalência dessa sensibilidade, isso faz com que haja uma possível empatia pelo outro tipo de peculiaridade, pois eu, como indivíduo, tenho a minha própria peculiaridade, que não são as mesmas características dos indivíduos ao meu redor, coisas que são apenas compreendidas pelo meu eu, com a minha forma de ver, pensar, sentir e refletir o mundo, o que me faz querer respeito, e por consequência, o entendimento de que eu devo respeitar e, não ficando apenas no entender, mas tendo a chance de garantir que o outro indivíduo tenha o seu direito, e também, que os indivíduos reconheçam o próximo da forma que o mesmo quer ser conhecido, em sua profundidade como indivíduo, em acordo com suas próprias convicções peculiares.

É bem notória a afirmação de que vivemos em um mundo que qualquer um opina sobre qualquer coisa, facilitando o tipo de abordagem em tom de protesto, também conhecido como “MIMIMI”, amplamente manifestado nos dias atuais, principalmente nas redes sociais, os principais meios de comunicação e manifestação de pensamento.

A atual geração tem maior facilidade em respeitar, isso se dá por ter uma chance de explorar melhor o individualismo, é uma das características positivas citadas por Dunker quando se relaciona à geração “MIMIMI”, o fato também se deve à maior diversidade já presenciada pela humanidade, no entanto, podendo não ser um fato tão positivo, as críticas não são aceitas com grande facilidade, ou seja, geralmente não são aceitas, “a sociedade da modernidade fluida é inóspita para a crítica” (BAUMAN, p.26), Dunker relaciona muito bem a dificuldade da geração descrita, que precisa ser reconhecida conforme o seu próprio ponto de vista, limitada às suas próprias convicções. A tese que não se adequa à realidade individual não é aceita e deve ser reclamada pela “voz da modernidade”, clamor que, em sua essência, de acordo com Bauman, expressa a condição individualista da sociedade fluida, fruto de uma sociedade que não segue mais uma verdade absoluta de que tudo vai melhorar, mas que toda a responsabilidade é do próprio indivíduo, que não mais trabalha no coletivo ou em prol de uma vontade conjunta, mas se liga às suas próprias direções, sob a sua própria responsabilidade, e não mais a do Estado, do patrão, da burguesia. Não é mais o cidadão, o trabalhador que luta em favor do bem comum em busca de progresso, o conceito de cidadão se reforma e faz oposição ao termo de indivíduo, uma vez que, neste, é de teor individualista e naquele, uma grande massa de pessoas que buscam uma finalidade com os seus padrões de vida e de atuação em uma sociedade.

Dentro de uma comunidade guiada pelo individualismo, a forma de ver o mundo do indivíduo deve se sobressair em relação aos demasiados pontos de vista, todo argumento que vai de encontro, é rebatido, criticado, afeta diretamente quem defende os interesses em conjunto com esse grupo de jovens, de acordo com Dunker, os quais tem apenas a sua realidade como a possível para o mundo, seus problemas e suas soluções, tudo o que for contra essa forma de pensar deve ser combatido, menosprezado e não deve ter voz, deve ser calado.

Quanto ao posicionamento defendido pela geração “MIMIMI”, seja ele político, ou em relação aos principais debates da modernidade,  Dunker ressalta a dificuldade em se definir de acordo com os conceitos já estabelecidos, é como um “meio-termo”, ou uma não necessidade de tomada de decisão, sem se rotular conforme os critérios comuns ou em um estado de transição entre os polos, e não é que a contradição deixe de existir na contemporaneidade, pois “riscos e contradições continuam a ser socialmente produzidos: são apenas o dever e a necessidade de enfrenta-los que estão sendo individualizados” (BAUMAN p. 36). Tem haver com o progresso contemporâneo, na época de Comte, o progresso era um fim buscado por todas as nações, sempre se modernizando em busca de uma melhoria constante, a ordem surgia em favor de todo um meio social, quanto maior a ordem, melhor a vida, dizia a teoria, que não foi tão exata na prática, é experimentado sobre a ordem a falta de liberdade do homem, de acordo com Bauman, não tendo, por consequência, a liberdade plena, gerando um mal estar, quanto ao progresso, se levado em conta à realidade começaremos a nos perguntar, será se realmente existe o tão sonhado progresso? O progresso moderno, segundo (BAUMAN p.128) agora se encontra individualizado, isso se dá por conta das diversas realidades presentes, não é mais algo buscado por toda uma sociedade, mas cada indivíduo busca seu aperfeiçoamento. São os resquícios da individualidade e a liquidez, de toda uma sociedade rápida, nas informações, nos relacionamentos, nas opiniões, na satisfação e na própria forma de entender e viver a vida...

O ressentimento é um efeito colateral, os indivíduos se prendem aos seus padrões de mundo e se limitam às suas formas de pensar, de forma que quem não entende, com a mesma modelagem que o próprio sujeito dono da realidade individual, merece o discurso de protesto denominado “MIMIMI”. Antes a reclamação à uma possível negociação do conflito, a opinião sendo própria e “criptografada”, um modo de leitura único querendo ser compreendida por quem não tem a “chave da criptografia”. Dentro destes termos, não há o devido conflito que determina, ou deve determinar, a realidade, a qual tem que prevalecer sobre o coletivo social, determinando o bem comum do cidadão, ser político tão menosprezado na modernidade, por ser um conceito que massifica, em tempos de individualidade. É deixado de lado o debate frutífero das sociedades modernas, que acaba por não ter grande praticidade em combinações práticas, até por líquidas que são: os conceitos são inventados e remodelados a cada curto período de tempo, uma velocidade de conceituações. Dado o período líquido da modernidade social, o meio termo é a solução dessa geração, sem que seja definido, pois a própria peculiaridade é o conceito direcionador do indivíduo, seu próprio posicionamento perante o mundo, longe do padrão comum, o progresso individual.

BIBLIOGRAFIA:
Dunker, Christian. “Geração MiMiMi”. Video Falando nIsso Mesmo, n. 268, 2021. Youtube, 21/08/2018, acesso em: 11/08/2021 Sítio: >https://www.youtube.com/watch?v=JU6LdsszXEo<
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Liquida. Rio de Janeiro. Zahar, 2001.