Categorias de pensamento em período de pandemia.

Categorização - Covid-19 – Filosofia do direito - Pós-verdade –  Uberização

A crise mundial da pandemia, Covid-19, lançou o mundo em uma mudança abrupta de pensamentos e atitudes. Nisto envolve a aceitação e o refletir sobre o próprio conhecimento, funcionamento do mundo, a existência das coisas e como elas são.  O conhecimento, ciência, poder econômico e governos não foram suficientes para apresentar uma resposta às dúvidas existentes e uma solução a crise pandêmica.

O que ficou evidente com a crise é a conexão existente entre as pessoas. Os seres humanos são afetados e repassam o vírus. Isto independe do viés cultural adotado, concepção política, ideológica e religiosa. A necessidade de adaptação rápida, talvez seja o aspecto mais relevante em controlar a pandemia. O instinto de sobrevivência deveria permitir essa rápida adaptação. Porém, o que se nota é que os indivíduos possuem bloqueios ou dificuldade de adaptação ocasionados em parte pela natureza humana, produto da sociedade, aculturada no momento atual antes da pandemia que age em contrário.

Veja por amostragens alguns temas atuais e a sua situação na crise do Covid-19. A exemplo vê-se a uberização do trabalho, ideia de liberdade contratual e de trabalho entre pessoas e empresas, flexibilização e informalidade nas relações de renda e trabalho. Com a crise vemos falta de trabalho, várias empresas pequenas fechando o negócio, o trabalhador informal ficou sem renda mínima, e grande parcela da população em escala planetária vivendo com auxílios governamentais. Velhas teorias referentes ao mercado, trabalho e economia não foram satisfatórias. Em uma visão pragmática, pode ser que a longo prazo os auxílios a população, também, talvez não o sejam, ter o dinheiro em mãos e não ter nada na prateleira para ser vendido não adianta nada.

Outro tema é a Pós-verdade, em que busca mexer com o emocional, a verdade está ligada a emoção, seja simpatia ou antipatia. Assim manipula os sentimentos dos indivíduos para convencê-lo sobre algo. Alguns líderes mundiais frente à pandemia, em um primeiro momento tentaram desclassificar a gravidade com uma doença menos grave, como uma simples gripe. Em alguns países como a Venezuela o líder nacional apresentou um chá como suposto antídoto.  Não ficando diferente tivemos uma recomendação de cloroquina em território nacional. As consequências são diversas no Distrito Federal foram distribuídos, 9.741 comprimidos de cloroquina, presume-se que mesmo sem respaldo cientifico a narrativa influenciou uma parcela dos profissionais de saúde.

Constata-se que os argumentos e a linguagens são feitas por meio de conceitos. Estes, por sua vez, são construídos em momentos particulares, seja histórico ou peculiar de uma sociedade ou grupo social. Foi apontado acima duas maneiras um tanto quanto negativas do uso de conceitos e da linguagem em geral nas quais observamos a maestria de alguns líderes em manipular seus governados por meio das distorções de conceitos.

As ações acontecem após o pensamento, as categorias de pensamentos são instrumentos de construção de linguagens e ações.  A capacidade de usar ou se apropriar dos conceitos existentes nos pensamentos individuais com reflexo no coletivo é feito a todo momento.

Percebe-se que, a pandemia acelerou algumas solidificações de categorias de pensamento novas e desuso de outras. O tempo entre a origem e aceitação de um conceito e categoria de pensamento, após a pandemia está rápido, em descompasso com o normal. Isso porque, o fato dos indivíduos vivenciarem uma crise tão intensa e lidarem com mudanças abruptas de realidade fez com que conceitos simples como o de trabalho, ensino, entretenimento também fossem transmutados.

Assim, a fluidez de conceitos, as relações entre pessoas, portanto, a conexão pessoal tomou nova forma. A conexão entre os indivíduos, seja em saudação, prestação de serviços, lazer, ensino saúde, serviços públicos, religião, vida e morte foram repensadas, sendo incluído neste bojo, contato em segurança, distanciamento social, cuidado e temor. Logo, pode-se arriscar um marco na periodização da história o fim da Idade Contemporânea, período antes da pandemia e pós-Covid 19, período ainda não categorizado.